Desejo e Mentiras l Capítulo 7

 

Capítulo 7 - O Começo de Tudo

Olá meninas, mais um capítulo fresquinho, agora vocês vão começar a entender tudo que Jackie viveu com Alícia e irão amar ou odiar Alícia, fiquem a vontade para comentarem e boa Leitura !!

Segue a Playlist especial

Música 1 – West Coast – Lana Del Rey

Música 2 – Hunger of the Pine – Valts, Jody Wisternoff

Música 3 - Cavalier – James Vincent McMorrow


Point of View – Alex


- Eu não acredito o que acabei de ver acontecer aqui – disse para Lena e Luc.

- Alex, o que mais me surpreendeu foi a reação de Jackie, ela parecia que ia ceder novamente, mas de repente ela simplesmente mandou a maluca calar a boca, eu nunca vi ela reagir assim em nenhuma das vezes que Alicia apareceu em sua vida, ela sempre cedia e acabava se envolvendo com ela novamente – disse Luc um tanto assustado.

- Luc eu vou atrás de Jackie, ela não deve estar nada bem, mas que porra essa mulher aparecer novamente, bem que Jackie estava sentido algo, ela já estava a alguns dias lembrando dela e aquele episódio da bebida na boate acho que foi demais.

Peguei minha mochila em cima da cadeira, levantei-me rapidamente para ir atrás de Jackie.

- Lena, eu preciso ir atrás de minha amiga, não sei o que ela é capaz de fazer e a reação dela me deixou um tanto intrigada, nos falamos mais tarde, ok?

Saí apressada do Le Café já pegando o celular para ligar para Jackie, eu não sabia se ela havia ido para sua casa ou sei lá para onde, apesar da resposta atravessada que ela deu para Alicia eu sabia que não estava bem, aquela maldita mulher ainda vai acabar com minha amiga, desde que conheceu Alicia nada foi mais o mesmo, essa mulher causou uma bagunça em sua vida, eu definitivamente não gosto de Alicia por conta disso, não acho ela uma pessoa má, mas porque toda vez ela aparece, as duas passam um tempo juntas como se o mundo ao redor não existisse e depois ela some, ou aparece com outra pessoa na frente de Jackie, não entendo porque elas não ficam juntas já que a ligação das duas de fato é algo tão surreal que até para mim que estou de longe é possível sentir, a forma como se olham, como se tratam é como se fosse um amor de almas, como se de fato uma fosse a metade da outra, nada as afeta quando estão juntas, mas a personalidade de Alicia parece a impedir de estar com Jackie, ela é inconstante e fria em alguns momentos, ela some sem dar sequer uma explicação e da mesma maneira reaparece do nada de tempos em tempos, isso é insano.

- Porra atende Jackie, por favor, anda, anda, atende essa porra de telefone.

Continuei andando em direção a seu apartamento enquanto ligava para seu celular sem sucesso, ela não atende, estou com medo dela sozinha depois do que acabou de acontecer, preciso encontra-la o mais rápido possível, se bem conheço ela vai se isolar, creio quem nem ela esteja conseguindo lidar com o fato de pela primeira vez em todos esses anos ter simplesmente ignorado a presença de Alicia, mas também cacete, como Alicia sabia que Jackie estaria lá? Será que alguém avisou ela? Se bem que a ligação delas é tão forte que pode ter sido atração mesmo, que tenha sido algo não planejado, mas a egrégora em tono delas é tão poderosa que isso já aconteceu várias vezes, elas acabavam se encontrando em locais totalmente improváveis, é como um imã, tá louco, porra de ligação inexplicável dessas duas viu, não sei porque não conseguem simplesmente ficarem juntas e se amarem, viver essa paixão avassaladora que uma tem pela outra, por que tem que ter tanto sofrimento, tanta mentira e tanto sexo, há isso sim é assustador, Jackie sempre me contava detalhes de suas noites com Alicia e confesso que nunca ouvi ou vivi nada parecido, é para enlouquecer mesmo.

Cheguei na porta do prédio de Jackie e continuava ligando para ela incessantemente e nada dela atender a porcaria do telefone, toquei o interfone e nada, eu já estava ficando preocupada de verdade quando a porta do prédio se abriu, um morador saia e eu aproveitei para entrar, não tinha certeza de que Jackie estaria em seu apartamento, mas eu tentar, ia insistir, nem que eu tivesse que ficar plantada em sua porta o resto do dia. Subi de escada mesmo, seria mais rápido.

- Nossa que merda, preciso fazer exercícios, ainda faltam dois andares e eu mal consigo respirar – falei abaixando o tronco e apoiando minhas mãos nos joelhos e fazendo uma pausa na subida, realmente estava sem fôlego.

Me apoiei no corrimão, respirei fundo olhei para cima vendo mais e mais degraus a minha frente, mas eu tinha que subir, era por uma causa nobre.

- Vamos Alex, sobe essa merda de escada, só falta mais um pouco – falei para mim mesma.

Cheguei a porta do apartamento de Jackie e resolvi não bater, fiquei em silêncio para tentar escutar algum barulho lá dentro, assim eu saberia se ela está lá ou não, se eu chamasse ela poderia simplesmente não atender e fingir que não estava lá, me sentei no chão ao lado da porta e fiquei em silêncio apenas prestando atenção para tentar ouvir algo, eu já havia feito mais de quinze ligações para seu celular e ela não havia atendido.


Point of View – Jackie


Já estávamos a umas boas horas falando bobagens depois do almoço delicioso que o Luc havia mandado preparar, e o clima já estava melhor depois deles entenderem que eu estava bem e que a dançarina não havia me enfeitiçado e que nem de longe a atração que eu estava sentindo por ela lembrava o sentimento tumultuado por Alicia, será que ela faria eu esquecer de vez que Alicia existe?

Eu podia sentir que ela era um demônio e me faria perder a lucidez, mas também sentia algo diferente, não sei explicar, seria talvez uma paixão repentina, do tipo à primeira vista?

Acho que Alex tinha razão, eu voltaria naquela boate, mesmo que fosse apenas para mostrar para aquela dançarina que eu sabia o que queria e era ela, afinal eu fui simplesmente escorraçada de dentro do camarim sem nenhuma explicação, saí de lá sem nem saber seu nome, mas isso não ficaria assim, eu vou voltar hoje a noite e dessa vez ela não escapa, ela irá conhecer meu lado dominador, não vou deixar ela me dominar.

Já estávamos sentados há horas e minhas pernas já não estavam mais aguentando, então me levantei um pouco para esticar a coluna e fiquei em pé ao lado da mesa, mas continuamos conversando, me espreguicei enquanto Alex falava suas bobagens.

- Há Jackie, vai, fala a verdade você vai voltar naquela boate hoje, né? Depois do que me contou e conhecendo bem você, tenho certeza que não vai deixar barato – Alex disse rindo muito e me provocando.

- Afinal, como ela se chama, Jackie? – disse Lena.

- Puta que pariu, além de tudo que aconteceu eu ainda saí de lá sem saber o nome daquele demônio – falei gargalhando.

Quando percebemos estávamos os quatro rindo muito de tudo aquilo e estava um clima gostoso e descontraído, levantei meu braço passando uma de minhas mãos no cabelo quando senti uma sensação estranha, senti como se alguém estivesse me observando, senti um calafrio que tomou conta de todo o meu corpo e logo em minha mente já veio a imagem de Alicia, era incrível como eu podia sentir sua energia a quilômetros de distância de mim, não podemos negar que temos uma ligação de almas tão forte que nada ao redor afeta esse estado.

(Play na música 1)

Lentamente virei meu rosto para trás em busca de algo que eu não sabia o que era e em um instante pude vê-la a poucos metros de mim, eu estava sorrindo mas quando me deparei com a imagem dela na minha frente senti que minha feição mudou, ela estava parada, estática na minha frente, ela está linda e sexy como sempre, tem um ar imponente, mesmo com pouca estatura, vestida em uma calça preta justíssima, marcando cada curva de seu corpo tão gostoso, usava uma sandália de salto e uma camisa branca transparente que deixava à mostra seus seios fartos e simetricamente perfeitos, seus cabelos encaracolados e totalmente soltos estavam mais cumpridos que lembro da última vez que nos vimos, estava com a bolsa em uma das mãos e seu único gesto daquele momento foi levar sua outra mão ao rosto e tirar os óculos escuros , estávamos imóveis, sem nenhuma reação, foi quando nossos olhos se cruzaram, isso sempre acontece, é como uma atração inevitável, meu corpo começou a tremer por inteiro, sentia uma certa fraqueza em minhas pernas como se pudesse falhar a qualquer momento.

Foi quando notei que ela caminhava em minha direção, nosso olhar não se desviou, parecia que fazia um silêncio descomunal naquele lugar, minha garganta estava seca e o que eu mais queria naquele momento era cair em seus braços, ela chegou muito perto, eu sabia que ela podia me desvendar pelo olhar, ela podia ver meu desejo em tê-la naquele exato momento, então ela se aproximou tanto que seus lábios quase tocaram o meu, eu podia sentir sua respiração ofegante e o calor de seu corpo, em um segundo passou em minha cabeça como um filme as suas últimas palavras para mim da última vez que nos encontramos, e senti como um punhal me ferindo por dentro e em um segundo de lucidez fiz algo que nunca achei que seria capaz de fazer na vida, não quando se tratava de Alicia.

Dei um passo para trás me afastando da tentação de me render a seus encantos, fechei meu semblante no mesmo instante.

- Que porra você está fazendo aqui? Disse ainda olhando profundamente em seus olhos, mas com um semblante de ódio e não mais de desejo.

Alicia ia dizer algo, mas definitivamente eu não queria ouvir nada dela, nada do que dissesse poderia apagar suas últimas palavras para mim, coloquei o dedo em minha boca em sinal de silêncio e disse:

- Cala a boca, não quero te ouvir, nada, nenhuma palavra que saia de sua boca.

Aquilo me machucou mais que a ela, tenho certeza, mas eu não poderia mais ser refém daquele sentimento avassalador e que nos embriagava de sexo, paixão, mentiras e dor.

Simplesmente peguei minha bolsa e saí a passos largos e firmes do Le Café, nem sequer olhei para trás para saber se ela estava vindo atrás de mim ou não, mas sinceramente eu nunca havia falado com ela desta maneira, muito pelo contrário, o feitiço dela sobre mim era tão forte que sempre que ela aparecia eu caia em seus braços, nunca pensei um dia ser capaz de tomar essa atitude, acredito que Alicia também esteja em choque e sem entender como e porque eu fiz aquilo.

Fui para a rua meio sem saber exatamente para onde ir ou o que fazer, eu estava irritada e tremia da cabeça aos pés, estava sentindo um misto de ódio e desejo por Alicia que achei que poderia enlouquecer, tudo naquele momento estava a flor da pele, decidi que ia para meu apartamento e tentar me acalmar, não queria tomar nenhuma atitude precipitada com a qual eu pudesse me arrepender depois, fui andando rapidamente com medo dela vir atrás de mim e daí eu não saberia o que fazer, não sei se conseguiria manter a distância e me manter firme ou se cairia em seus braços novamente.

Enquanto caminhava e pensava em tudo ao mesmo tempo, pude sentir algumas lágrimas escorrendo em meu rosto, era inevitável sentir aquela dor e vazio, quando senti meu telefone vibrar dentro da bolsa e fiquei tensa, mas quem poderia ser?

O medo era tão grande que nem peguei o celular para ver quem me ligava insistentemente, logo cheguei ao meu apartamento, tranquei a porta, larguei a bolsa de canto e sentei no sofá, apoiei meus cotovelos nas pernas e levei minha cabeça em direção as mãos, eu só olhava para o nada, em silêncio e tudo começou a passar em minha cabeça, desde o dia que nos conhecemos até as suas últimas palavras a cerca de quatro anos por uma mensagem, foi como reviver tudo desde o início.

(Play na música 2)

Depois daquela noite que nos conhecemos na porta do meu curso de fotografia nossas vidas nunca mais foram as mesmas, passado uns dois dias eu estava na sala de aula, estava tendo aula de fotografia com modelos, fotografar pessoas não é assim tão simples, exige muito de observação, luz, movimento e interação com os modelos, quando alguém bateu na porta e lentamente abriu, éramos em uns 8 alunos mais o professor além de quatro modelos que estavam sendo fotografados, todos sem exceção olharam para a porta e eis que surge por uma pequena fresta aquele rosto, aqueles olhos profundos que vieram em minha direção imediatamente e uma voz doce.

- Professor, me desculpe interromper sua aula, mas é algo importante, poderia tirar Jackie de sua aula por alguns instantes? Disse Alicia

O professor apenas me olhou e disse:

- Vamos logo Jackie, converse do lado de fora para não atrapalhar os demais. Disse o professor com uma cara de quem não tinha gostado muito da situação.

Eu pude ouvir alguns cochichos dos meu colegas e alguns risos baixinhos também, nesta altura eu com certeza estava com o rosto todo corado, eu podia sentir um calor subindo do pescoço até o topo da cabeça, olhei para Alicia que ainda estava com a porta entreaberta e notei nela um sorriso de canto, um tanto provocador enquanto eu saia da sala ou vi um assovio de uma de minhas amigas, olhei rapidamente para ela e saí antes que me matassem por interromper a aula.

Eu não podia acreditar que ela tinha feito isso comigo, quase morri de vergonha, fechei a porta atrás de mim e lá estava ela, linda, exuberante com os cabelos soltos, jeans e camiseta, seus olhos, castanhos tão profundos e sua boca perfeitamente desenhada e aquelas curvas perfeitas que nem uma roupa simples podia esconder, ela estava com um sorriso manhoso e sexy ao mesmo tempo, ela é diferente de qualquer mulher que eu já havia conhecido, meu corpo já tremia por inteiro, eu realmente estava nervosa.

- Olá tudo bem Srta Jackie – disse ela olhando profundamente dentro de meus olhos.

- Olá Alicia, tudo bem-disse com a voz trêmula

- Você parece um tanto nervosa, eu te deixo nervosa Jackie? Alicia falou com um sorriso sarcástico.

- Bem, é, enfim

Foi o que consegui falar naquele momento, ela soltou uma deliciosa gargalhada.

- Bem, definitivamente te deixo nervosa, mas espero que eu também a acometa com outras sensações.

Como ela podia ser tão direta? Como podia me desestabilizar apenas com palavras? Ela é tão segura de si que de fato me deixa com medo e curiosidade ao mesmo tempo.

- Bem, acho melhor sairmos do corredor, estamos paradas como estátuas aqui. Disse já pegando em minha mão e me levando em direção as escadas de emergência.

- Onde está me levando? Perguntei, mas já me arrependi da pergunta no mesmo momento, puta pergunta imbecil.

- Em um lugar um pouco mais calmo – disse Alicia rindo e me arrastando.

Entramos pela porta que dava acesso à escada, ela olhou em meus olhos e sentou-se em um dos degraus.

- Vem pra cá, ou vai ficar aí em pé com essa cara de assustada?

Eu caminhei em sua direção e sentei-me uns dois degraus abaixo que o dela, não nego que eu estava totalmente atraída por aquela mulher, e como me conhecia era melhor manter a distância pois poderíamos acabar nos atracando ali mesmo.

Ela olhava tão profundamente em meus olhos que me causava uma sensação de descontrole absoluto, minhas mãos estavam suando e eu com certeza estava transparecendo todo aquele nervosismo.

- Posso te fazer uma pergunta? Disse Alicia

- Sim, pode, espero conseguir te responder – disse rindo de nervoso.

- O que você sente quando me olha?

- Eu sabia que a pergunta não seria fácil de responder, mas você quer sinceridade? Disse com nervosismo, ela é direta demais.

- Sempre, nada menos de que toda a sua sinceridade me bastará.

- Você me enfeitiça, eu perco meus sentidos, eu te desejo, desejo seu corpo, sua boca, seu calor, sua alma – não sei como aquelas palavras saíram da minha boca, sério.

(Play na música 3)

Por alguns instantes ela permaneceu em silêncio apenas olhando profundamente em meus olhos, sua feição que até então era um tanto sarcástica passou para puro desejo, notei sua pele alva ficando corada, passou lentamente sua língua nos lábios de um lado para o outro deixando-os molhados e mordeu o canto da boca, antes que eu conseguisse ter qualquer reação ao que via ela se levantou, sentou em meu colo de frente para mim, com as pernas abertas passando por fora das minhas, agarrou meus cabelos pela nuca e me embriagou em um beijo de paixão, eu sentia sua boca, seu hálito, seu gosto e sua respiração em mim, suas pernas prendiam com força meu quadril e o beijo continuava intenso, eu podia sentir minha boca arder de tanto atrito com aqueles lábios carnudos, sua língua serpenteava em minha boca e o beijo era tão perfeito, nossas bocas estavam em perfeita harmonia, era um encaixe perfeito, não conseguíamos parar o beijo, suas mãos já estavam em minhas costas e suas unhas mesmo por cima de minha roupa me feriam, mas aquela dor era prazerosa, retribui colocando minhas mãos em sua bunda e trazendo seu corpo para mais próximo do meu, como se fosse possível, estávamos tão entrelaçadas naquele beijo e eu sentia seus seios tocarem os meus, eu já estava totalmente enlouquecida e com um desejo de arrancar toda a roupa de Alicia ali mesmo.

O Beijo continuou, ela estava com seu sexo encostado no meu e mesmo por cima da roupa eu podia sentir o seu calor, ela se mexia em um vai e vem em meu colo, eu podia ouvir seus pequenos gemidos dentro de minha boca, sentia seu ventre se contrair, estávamos em um inebriante momento de paixão e desejo, confesso nunca ter sentido nada parecido, não era só o desejo do corpo, havia uma conexão, era como se eu realmente houvesse encontrado minha outra metade, e ela a dela, em um momento em que abri meus olhos eu pude ver lágrimas correndo pelo seu rosto, não era tristeza, era algo muito maior e imediatamente eu também estava com lágrimas nos olhos, aquilo foi mágico, não dissemos uma só palavra, apenas estávamos nos sentindo, nos reconhecendo, nos reconectando de alguma forma, era como se tivéssemos matando uma saudade de séculos, eu podia jurar que já havia sentido aquele beijo, aquele gosto e aquele aroma que exalava de seus poros, a sensação era indescritível para ambas, ela acomodou sua cabeça em meu ombro de forma carinhosa e intensa, eu alisei seus cabelos cacheados com carinho e delicadeza, suas lágrimas ainda corriam em seu rosto, fiz menção de falar algo, ela delicadamente colocou sua mão em minha boca e olhando em meus olhos como se dissesse que não precisávamos falar nada naquele momento, nenhuma palavra sequer conseguiria definir o que sentimos ali.

Ainda ficamos por alguns minutos naquela posição, ela sentada em meu colo com a cabeça repousada em meu ombro, até que ela levantou o rosto me olhou novamente dentro dos olhos.

- Onde você esteve todo esse tempo?

- Por onde você andou?

Eu nada consegui falar, mas eu tive vontade de lhe perguntar a mesma coisa, mas me mantive em silêncio, apenas lhe sorri e nos abraçamos intensamente, começamos a ouvir um falatório, parecia que havia pessoas descendo do andar superior pelas escadas, ela então se levantou de meu colo, ficando à minha frente tinha um semblante tranquilo, ajeitou seu cabelo para trás de suas costas e me fez um pedido.

- Me leve até em casa, por favor.

- Claro que levo – respondi com a voz embargada

- Me espere lá embaixo, só vou pegar minhas coisas e já desço.

Ela então se virou e saiu pela porta, eu fiquei ali ainda mais alguns segundo tentando encontrar uma lógica no que eu havia acabado de vivenciar com Alicia, mas não conseguia encontrar nenhuma razão em toda aquela emoção e sentimento de pertencimento tão poderoso que tomava conta do meu corpo e da minha mente.

Fui até a sala de aula, o pessoal já estava saindo, entrei peguei minha mochila e minha máquina fotográfica e desci as escadas para encontrar com Alicia e levá-la para casa como ela havia me pedido.

Eu já estava na porta do prédio, acendi um cigarro e dei uma longa tragada, eu ainda estava inebriada e porque não dizer atordoada, quando olho em direção às catracas e lá vem ela, dona de si e com um sorriso para mim que confesso nunca havia visto igual.

- Vamos – disse Alicia

- Caro, mas não sei onde você mora, então terá que me guiar.

- Moro aqui perto, podemos ir caminhando – falou pegando em minha mão e andando em direção a esquina.

Foram aproximadamente quinze minutos de caminhada e o mais louco é que não trocamos uma palavra sequer o caminho todo, ela vez em quando segurava meu braço e apoiava sua cabeça na lateral de meu braço, aquilo era reconfortante, era uma sensação de pertencimento tão profundo que eu não saberia descrever.

Até que chegamos a uma praça, ela parou, ficou de frente para mim, segurou em minhas mãos e disse:

- Moro logo ali – falou apontando para uma pequena rua que derivava desta praça.

- Daqui já posso ir sozinha, te vejo amanhã?

- Sim, nos vemos amanhã, mas me diga uma coisa, isso foi um sonho? Falei sorrindo.

- Não Jackie, apenas um reencontro – disse Alicia já se virando e caminhando para a pequena rua em direção à sua casa.

Eu fiquei olhando-a de longe até vê-la sumir entre as árvores da praça, onde minha visão já não alcançava mais. Dali mesmo eu voltei para a porta do curso, eu havia combinado de esperar o Luc para comermos algo depois da aula e sério, eu precisava falar para ele o que aconteceu, não seria capaz de guardar aquilo dentro da minha cabeça e assimilar sozinha.

Eu na verdade não via a hora de chegar logo o dia seguinte para vê-la novamente. Depois deste dia nos víamos praticamente todos os dias e era sensacional, nós riamos, ela me contava de coisas que gostava, lia poesias para mim, me escrevia cartas, me dava origamis e bilhetinhos com coisas escritas todos os dias, parecia que tudo era perfeito.

Em uma segunda feira ela me ligou e disse que ficaria fora até o final da semana, que faria um curso fora da cidade, aquilo já me deixou agoniada, mas compreendi, e passamos esta semana praticamente incomunicável, mas na sexta-feira pela manhã ela já estava de volta, me ligou e perguntou se eu poderia sair com ela após a aula naquele dia, eu disse que sim então ela me mandou um endereço e disse que me esperava as vinte e duas horas, eu respondi afirmativamente e ela disse que estava enlouquecidamente com saudades, depois daquele beijo quente que tivemos na escadaria nunca mais chegamos ao ponto de desejo extremo, era como se estivéssemos nos conhecendo, haviam beijos sim, mas era algo mais doce e menos voraz, não por falta de desejo, mas porque o momento que estávamos vivendo pedia que fosse assim, deixamos fluir, sem expectativas e sem cobranças.

Confesso que meu desejo por ela aumentava a cada dia, mas as coisas aconteceriam na hora certa e pelo tom de voz dela parecia que estava preparando algo para nós naquela noite e eu estava ansiosa, o dia praticamente se arrastou até que a noite chegasse.

Continua...

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